Identidade é uma coisa complicada. Alguns dizem que é formada ainda no útero, que vem do sangue; outros, que é formada durante os primeiros anos de vida; outros ainda acreditam que é construída ao longo da vida, reflexo das experiências que vivemos e escolhas que fazemos {eu, particularmente, sou membro da última escola}. Quanto a essas experiências e escolhas, até onde elas nos moldam? Quais experiências influenciam a identidade?
Por exemplo, digamos que nasci no Rio Grande do Norte, mas fui criada no Rio Grande do Sul: qual dos dois é mais importante pra minha identidade? O lugar onde nasci ou o lugar onde me criei? {Não, não nasci no RN. Nunca estive no NE. Ainda…}
Pra ser mais específica, vou usar exemplos pessoais:
Nasci no pampa gaúcho. Cresci comendo churrasco, em meio a cavalos e vacas e peões. Mas não tomo chimarrão, o que é sacrilégio pra gaúcho;
Meu padrasto é filósofo. Cresci ouvindo teorias filosóficas e aprendi desde cedo a questionar o mundo a meu redor. Uma das minhas maiores influências, sem nenhum laço de sangue – vivência pura;
Sou brasileira, minha língua materna é – oficialmente – o português. Mas, além de brasileira, sou gaúcha da fronteira, o que quer dizer que nasci e cresci em um ambiente onde falamos o dialeto guasca, o famoso portunhol.
Consistentemente, minhas experiências e escolhas foram – e ainda são – a base pra construção da minha identidade. Sim, a genética tem um pouco de responsabilidade, e os anos formativos também. Mas minha principal fonte são minhas experiências e escolhas. É como eu vejo a questão; tu tem todo o direito de ver de maneira diferente. Mas, pra reforçar meu ponto de vista, vou seguir a discussão.
Inteligência emocional, a grande questão do momento – e que siga assim!
Fui criada no meio de filósofos, então nada mais óbvio que me interessar por filosofia. E que os filósofos da minha vida não me leiam, mas adoro o Alain deBotton. Ele consegue explicar conceitos filosóficos bruxos de uma maneira acessível aos leigos, e a leitura é tão gostosa… De fato, foi uma das minhas maiores influências ao criar a Bergamota, em especial o blog: tornar o design e as ferramentasdigitais algo acessível aos empreendedores.
Então, quando descobri The Book of Life – O Livro da Vida -, adorei mais ainda. Como eles explicam,
Se chama Livro da Vida porque trata das coisas mais substanciais na tua vida: teus relacionamentos, tua renda, tua carreira, tuas ansiedades. […] O Livro da Vida busca ser a curadoria das melhores e mais úteis ideias sobre o assunto da vida emocional […] está sendo escrito por várias pessoas ao longo de um grande período de tempo; continuamente mudando e evoluindo. […] Por existir online, pode crescer um pouco a cada dia, conforme novas coisas surgem e pode ser acessado igualmente ao redor do mundo, a qualquer momento, de graça. What is the book of life, tradução minha
O livro é dividido em seis capítulos, de acordo com os temas mais importantes da vida contemporânea: Capitalismo, Trabalho, Relacionamentos, O Ser, Cultura, e Currículo. O conteúdo está indexado, então é possível explorar um conteúdo a partir de várias perspectivas, não só de maneira linear. É o tipo de livro que tu lê enquanto toma um chá, ou vinho, ou um café com leite sentada num bar olhando a vida passar – e o tipo de livro no qual tu te perde e te encontra novamente.
Os capítulos do Livro da Vida tratam dos assuntos mais relevantes da vida contemporânea, a partir de uma perspectiva que foca a inteligência emocional.
O livro trata do desenvolvimento da inteligência emocional, e é escrito pelos membros da The School of Life, que são filósofos, sociólogos, pedagogos… enfim, gente muito inteligente, capacitada, e brilhante – afinal, há maior sinal de ‘brilhanteza’ que uma pessoa emocionalmente inteligente?
Inteligência emocional e Identidade
Muitos dos artigos tratam de identidade. Mas hoje, vim falar de um específico: How your job shapes your identity {em pt-BR, Como seu trabalho forma sua identidade; desculpa, só tem em inglês}. Nesse artigo, o autor fala sobre as demandas e consequências psicológicas do trabalho: a mentalidade instigada pelo trabalho, o que fazer o trabalho requer de ti e da tua vida interior, como ele nos expande e nos limita.
Propõe uma categorização do trabalho de acordo com seu perfil psicológico, de acordo com as características da natureza humana que ele enfraquece ou reforça. Algumas das categorias são: paciente ou impaciente; desconfiado ou confiante; especulativo ou concreto; conformista ou independente; e outras…
Essa última é a que nos interessa, já que, de acordo com o autor,
alguns tipos de trabalho ensinam a habilidade de fundir-se à visão coletiva (professor); outros convidam a colocar em primeiro plano uma perspectiva pessoal, uma visão incomum frente as coisas, onde não fazer o que os outros fazem pode ser uma vantagem importante (empreendedor) ↬How your job shapes your identity, ou Como seu trabalho molda sua identidade, tradução minha
O que me pergunto é: sou empreendedora porque vejo as coisas de maneira diferente, ou vejo de maneira diferente porque sou empreendedora?
Já pensou nisso? Será que sou empreendedora porque sou do contra e gosto de fazer as coisas do meu jeito, ou será que sou do contra e gosto de fazer as coisas do meu jeito porque sou empreendedora? Aff, dei nó no meu cérebro.
Quer mais exemplos?
Já mencionei antes que sounerdassumida, e muitofã desci fi. Pois há uns meses descobri uma série maravilhosa, que caiu como uma luva nos meus estudos sobre identidade: Orphan Black.
Orphan Black | Sarah, Allison, Cosima, Rachel, e Helena: um DNA, cinco identidades.
Primeiro: a Tatiana Maslany é Diva pura. Não só representa mais de 10 personagens, consegue dar uma identidade característica a cada uma delas. E é linda.
Segundo: a série é maravilhosa, mais do que bem escrita, e a produção é fabulosa e super detalhada.
Terceiro: Paul Dierden. Confia em mim. E vai logo assistir.
Mas, voltando ao assunto {limpa a baba aí no queixo}, por que essa série foi tão importante nos meus estudos sobre identidade?
Primeiro: uma das bases da série é a discussão Inato ou Adquirido, que é essencial a qualquer discussão sobre identidade. Assistindo, comecei a fazer conexões que até então não havia percebido entre a discussão de identidade pessoal e identidade de marca.
Segundo: me mostrou – de forma fictícia, mas ficção sempre está calcada na realidade – como experiências e escolhas são importantes na formação da identidade.
E como se não fosse suficiente, te deixo com mais uma jóia da Jout Jout, porque, né, Jout Jout.
PS. Esse post está em modo rascunho desde 11 de agosto. Sério. Parece que só faltava o vídeo da Jout Jout pra terminar. Sim, ridículo.
A conclusão a que chego é:
Essa discussão toda é mais ou menos como a história do ovo e da galinha. Posso dizer que a galinha veio primeiro, porque evoluiu de outra ave, e quando se reproduziu gerou o primeiro ovo de galinha. Ou então, o ovo veio primeiro, porque os ovíparos em geral são anteriores à galinha, e a primeira galinha nasceu do primeiro ovo de galinha, que por sua vez veio de uma ave que ainda não era galinha… Deu pra entender? {Sim, isso é meu cérebro, 24h por dia, 7 dias por semana.}
Mas, voltando, o propósito todo desse post quilométrico é botar a pulga atrás da tua orelha: o que te faz empreendedor? Como ser empreendedor molda tua identidade pessoal? E como a tua identidade pessoal molda tua identidade empreendedora? E, mais uma, qual é tua identidade empreendedora? Afinal, é essa que nos interessa aqui na Bergamota.
E é essa identidade empreendedora que vai regir tua identidade visual. E tua comunicação em geral. E como tu te relaciona com teu público. E as escolhas que tu faz pra tua marca.
Pensa nisso, com carinho, ok? E, se quiser ajuda, vamos lagartear. Em qualquer uma das redes sociais. Sério. Adoro! Te espero com bergamotas.