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Ao longo dos anos que venho trabalhando com design {quase metade da minha vida, mas quem tá contando? Já disse que sou experiente, não velha!!!}, desenvolvi diversas ferramentas pra ajudar na criação de identidades visuais para marcas. Uma delas, que roubei não lembro de quem, é usar três palavras ou, mais corretamente, 3 adjetivos, pra descrever a marca. Tem também o pitch de elevador, onde tu usa toda tua lábia – apenas tua lábia – pra vender uma ideia em 60 segundos ou menos. Outra é a memória de seis palavras, onde tu conta uma história usando exatamente seis palavras. Mas, voltando, o propósito desse post é falar sobre essas três coisas: os 3 adjetivos que definem a marca, as memórias de seis palavras, e como vender teu peixe em 60 segundos. E a relação entre essas três ideias – aparentemente aleatórias – com a identidade da marca. E mais ainda, sobre o poder das palavras.
Os três adjetivos
A ideia por trás dos três adjetivos é que eles ajudem a construir a identidade visual, e a guiar a comunicação da marca. Basicamente, tu escolhe três adjetivos que definam a marca, e constrói a comunicação a partir deles.
Por exemplo, se fosse definir a Bergamota em três adjetivos, seriam divertida, informativa, simples. E deixo bem claro que simples não quer dizer fácil ou feito de qualquer jeito: pra chegar no simples, há um longo e conturbado caminho que raramente é visto.
E como esses três adjetivos se traduzem na marca Bergamota?
Bom, na comunicação verbal, pelo conteúdo relevante ao nicho de mercado, e pela maneira como a mensagem é produzida – no vocabulário, nas piadas, etc. E na comunicação visual, pela simplicidade do layout, pela paleta de cores reduzida, e pela logo.
A logo é simples e informativa, baseada em tipografia, sem aplicação de cores. Os caracteres, equilibrados, seguem uma linha de base reta, porém apresentam um ritmo peculiar, tanto em sua construção quanto em seu posicionamento – estão integrados, não apenas dispostos lado-a-lado -, e pelo jogo nesse posicionamento sugere proximidade, abertura. A ausência de cores enfatiza a palavra-nome, assim como a ausência de ícones, o que também evita cair no clichê do uso da cor ou da imagem características da fruta da qual empresta o nome.
Essas características – diversão, informatividade, simplicidade – são levadas a todos os materiais da Bergamota, e norteiam toda a produção da – e para a – marca. Assim funcionam os três adjetivos.
O pitch de elevador
Essa é uma ferramenta comum ao mundo dos negócios, onde se tem pouco tempo pra vender uma ideia. O princípio é explicar algo de maneira concisa e direta, como se estivesse fazendo o pitch – ou exposição – em um elevador, e tivesse os 60 segundos da viagem pra convencer o outro a comprar tua ideia.
Já aconteceu de alguém te perguntar o que tu faz, ou o que é tua marca, e te dar um branco? Ou pior, ficar com cara de peixe morto? Comigo acontece direto. Então, é nessa hora que entra o pitch: um roteiro, treinado de antemão, que tu recita quando necessário, sem passar vergonha.
O pitch da Bergamota: propomos o design colaborativo da identidade de marca de empreendedores criativos. Colaborativo porque é da personalidade do empreendedor participar de todos os estágios do seu empreendimento; pra que a identidade seja, em sua totalidade, uma representação do empreendedor e sua marca; pra que cada peça mostre a identidade da marca, nos mínimos detalhes; pra que o empreendedor tenha todas as ferramentas possíveis a seu dispor, e que seu empreendimento seja um sucesso.
Ainda estou trabalhando no pitch. Ele, assim como todo o resto quando se trata de identidade, é um trabalho em processo.
A memória de seis palavras
Criado pela revista Smith em 2006, Six word Memoirs é um projeto no qual tu é convidado a escrever tuas memórias usando seis palavras. Nem mais, nem menos. Parte da ideia de que limitar o número de palavras pode ser um ótimo exercício criativo. Algumas das histórias foram compiladas em doze livros até agora. O site – contemporâneo do Twitter -, é uma ótima fonte de diversão e reflexão – e tu pode te registrar e deixar tua contribuição.
Diz a lenda que, quando desafiado a escrever uma história em seis palavras, Hemingway escreveu For sale: baby shoes, never worn {à venda: sapatos infantis, nunca usados}. As possíveis interpretações dessa história me deixam louca, e isso só com as centenas que consigo imaginar!
De fato, contei a memória desse momento lá no site, dizendo writing post about six word memoirs {escrevendo post sobre memórias seis palavras}. É a mesma lógica do contemporâneo Twitter.
E na identidade, tu pode usar esse exercício de criatividade contando, ou explicando, a tua marca em seis palavras. Pode-se dizer que é um micro pitch de elevador. Por exemplo, a memória da Bergamota: construção colaborativa da identidade do empreendedor. Também um trabalho em processo.
A moral da história
Primeiro: tudo é processo. Nada está completamente acabado, nada é definitivo, ou imortal, ou qualquer sinônimo que queira usar. Ao menos não quando se trata de identidade de marca.
Segundo: as palavras… Ah as palavras… Poetas, escritores, músicos, e loucos, ao longo dos milhares de anos em que o ser humano é humano, sabem que a palavra é uma das armas mais poderosas que existem. E vale a pena saber quais são tuas palavras. Diria que é o primeiro passo pra definir tua identidade. Antes mesmo das cores, das fontes, das imagens. Começa com esses três exercícios, define tuas palavras, e o caminho vai ser bem menos conturbado. Ao menos é o que descobri nos meus anos de experiência.
Terceiro: na verdade, não tem terceiro, mas gosto da simetria dos três elementos… 😀
NEUROCIÊNCIA
INOVAÇÃO
EFICIÊNCIA
OBJETIVIDADE
PERSONALIZADO
Isso aí! Mas neurociência não seria um adjetivo, né? ;P